sábado, 19 de março de 2011

Esse é meu mundo... Associação Nova Projeto

Costumo dizer que o lugar onde eu trabalho é especial. Eu me sinto privilegiada por essa oportunidade que a vida me oferece todos os dias.

O convívio com jovens com deficiência é uma constante lição de vida. Quem desenvolve trabalho semelhante certamente convive com essa experiência.

Diariamente enfrentamos muitos problemas, mas as recompensas são tão valiosas que nos fazem seguir em frente com uma energia sistematicamente recarregada. O afeto que oferecem é espontâneo desinteressado e nada pedem em troca. O mínimo que se faz é muito valorizado.
Cedo, quando chego para trabalhar, sou recebida por todos com muita alegria como se a minha presença fosse fundamental. Quando atravesso a porta de entrada o clima me envolve. Só vou lembrar dos meus “problemas pessoais” quando termino o meu dia.

Hoje recebi a visita de um jovem que fez o curso de capacitação profissional conosco em 2007. Reside em Osasco e quando fez a capacitação profissional, durante todo o período do curso a mãe teve que trazê-lo.
Não conseguia vir sozinho. A mãe uma senhorinha inesquecível ficava esperando para voltar com ele. Trazia sempre um trabalhinho manual para fazer. Era inverno e fazia cachecóis lindos. Fez um para mim.
Foram três meses de convívio e no final do curso senti falta daquela presença simples e cheia de sabedoria. Dizia que trazia seu filho contra a vontade do marido. O pai não acreditava que um dia ele poderia trabalhar.
Mas a crença da mãe valeu todo o sacrifício. Está trabalhando em um restaurante industrial em Osasco desde que terminou o curso. O pai faleceu e agora o rapaz ajuda a mãe nas despesas da casa.
Acompanhei-o por algum tempo enquanto estava se adaptando ao emprego, fui visitá-lo no trabalho, mas como estava bem não tive mais noticias.


Hoje ele veio sozinho nos visitar. Não precisou da companhia da mãe. Quando chegou, não o reconheci de imediato, a fisionomia não me pareceu estranha e logo lembrei. Não aparenta ser mais aquele jovem que esteve conosco há anos atrás, sempre acompanhado da mãe, magrinho e tímido. Bem vestido, forte, seguro, ainda se expressa com dificuldade e demonstra as limitações que possui. Mudou para melhor.
Sempre fico feliz quando os recebo e exagero nas perguntas. Quis saber como está no serviço, se tem amigos, namorada, se voltou a estudar, noticias da mãe e muito mais.
Em determinado momento interrompeu a conversa e estendeu uma folha de caderno, dobrada com muito cuidado e disse: é para você. Pensei ser algum recado da mãe. Qual não foi minha surpresa ao abrir a folha e ver desenhado com cuidado um sol e em cima escrito o meu nome. Disse: é um presente para você.


Raphaela Viggiani Coutinho
São Paulo 20 de março de 2011